sexta-feira, 25 de junho de 2010

Minhas impressões do início da Copa

Por Mayer Kafrouni - Fim da fase classificatória da Copa, e antes que comece a fase do mata-mata (é mais legal falar assim do que Playoffs viu Galvão), algumas verdades foram reveladas e outras confirmadas sobre a peleja mundial. Sobretudo no que diz respeito a atual política deste esporte bretão e o mercado de negócios que ela faz girar.


Não vou comentar jogo por jogo, pois isso deixo para meus companheiros dos Desmanche que são mais analíticos que eu. Mas como estou aqui no Centro de Impressa em Joanesburgo, tenho mais contato com empresários, cartolas e um monte de “especialista” em futebol.


Pra começar, vimos que uma Copa do Mundo pode ser sim feita em países com poucos recursos, desde que, notem, dinheiro privado esteja injetado. Tivemos pouquíssimos problemas por aqui. Um transito aqui, outro ali, mais ingressos vendidos para um só jogo do que o local suporta, mas isso é corriqueiro e muito comum em eventos de grande porte. Porém, nada que tenha realmente atrapalhado a estrutura desta Copa. O ponto mais baixo fica para os preços de ingressos, especialmente para transeuntes locais. Cobrar $500 por um ingresso na Alemanha é uma coisa, cobrar os mesmos $500 na Africa do Sul é baixaria. Quem é que pode pagar por isso vivendo em uma população tão fragilizada? Que isso sirva de lição para a Copa de 2014. Não falo em cobrar R$10,00, mas um pouco de dignidade nos preços não faz mal a ninguém. Assim, a FIFA deveria ter sido mais razoável. Agora, só para manter a polêmica, um povo pobre e sofrido se diverti muito mais né? Está um show a parte a empolgação dos africanos - mesmo eu tendo odiado a Vuvuzela.


E o que dizer de França, Itália e Espanha? Alguns colegas de bate-bola jogam a culpa nos treinadores, em especial da Italia, que convocou praticamente o mesmo time de 2006, mas esqueceu de lembrar que eles estavam 4 anos mais velhos. A Espanha decepcionou, mesmo com classificação. Para mim, as razões das decepções são outras e envolvem a atual política empresarial e comercial da FIFA. Lá vai: O Paraíso do Futebol que é a Europa fez a cabeça de muita gente. Todo mundo quer ir jogar lá. Isso me faz lembrar do Robinho anos atrás dizendo igual a um bebê chorão “quero jogar na Europa, no Real Madrid, buá”. Foi divertido, muitos craques jogaram e fizeram história lá, mas agora as seleções nacionais estão colhendo os péssimos frutos dessa colheita que começou no fim dos anos 80 do século passado.


Veja o caso de Espanha e Itália. As equipes desses países estão repletos de jogadores estrangeiros. Lembram do Real Madrid em 2003? Os 11 titulares eram gringos, nenhum espanhol no time titular. E o que dizer do Barcelona? Durante muitas décadas, as duplas de ataque são formados por estrangeiros. São apenas dois exemplos de times, mas essa regra vale para quase todos de lá. A maior parte desses jogadores vem de países como Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, México e até EUA. Com as equipes italianas é a mesmíssima coisa. Só a Inter tem na zaga 3 brasileiros, um atacante argentino e outro camaronense e um meio de campo bem sul-americano. E isso vale também para outros clubes da “velha bota”. Onde quero chegar? Os clubes não dão valor a jogadores locais, de seu próprio país, desde a tenra infância. Um monte de molecada italiana, ou espanhola, ficam lá nas peneiras, mas os clubes dão preferência a jogadores gringos. Nas escolas italianas e espanholas de futebol, tem mais brasileiro que a fila do SUS. E os jogadores italianos e espanhóis? Tem de se contentar a ficar na reserva. Resultado: países como Itália e Espanha podem ter um jogador bom, mas jogadores no plural não. Depois quando juntam os que sobram numa seleção, não dá um time. Esses países não investem em jogadores nacionais, eles investem nos estrangeiros. Bom para os sul-americanos. As seleções latinas não estão decepcionando, pois os jogadores atuam em grande parte em clubes europeus de destaque e assim tem excelente jogo. Alias, muitos jogam no mesmo clube inclusive e assim não tem dificuldade nenhuma para entrosamento. Podemos dizer que o Barcelona é o melhor time sul-americano que temos hoje. Deveriam disputar a Libertadores da América. E isso vale para outros países como Inglaterra. Fica um parabéns para o time alemão, que dos 11 titulares, 7 atuam em clubes do seu próprio país. Ou Portugal, onde a nata joga em times patrícios. Como consequência vem outro problema. Por falta de jogadores bons nacionais, o negócio é apelarem para que jogadores estrangeiros mudem de nacionalidade para jogarem nas Seleções.


Sou a favor de uma nova política de contratação. Assim acaba com esses empresários que ganham milhões em cima de jogadores, levam para a Europa e tiram oportunidades de jogadores locais. Muitos jogadores brasileiros que fizeram história nos últimos 30 anos saíram do Brasil em alta e brilharam na Europa. Mas vejam, investiram neles em clubes brasileiros. Ou seja, deram oportunidade para jogadores brasileiros, e assim o Brasil sempre terá bons jogadores. Já na Espanha e Itália não, pois não se investem neles mesmos. Acho que se a FIFA expandisse aquela lei de não permitir mais de 3 estrangeiros no time titular por clube, talvez o futebol voltaria a ser mais equilibrado, pois ai sim teríamos grandes jogadores atuando em suas seleções.


Para finalizar, uma grande salva para a torcida mexicana que foi de longe a mais criativa da Copa. Ao invés de “vuvuzelar” para gol feito ou gol perdido, eles gritavam “Olé”, “Buuuuuuurrro!” quando o goleiro adversário iria chutar a bola e por ai vai. Tiram sarro da torcida adverária. E fazem tão alto que se sobressaem às vuvuzelas. Bem mais divertido.


É isso, quer concordem ou não. E deixe-me ir que vou tomar Coca-Cola com o pessoal da impressa argentina, que são bem sarcásticos.


9 comentários:

Desmanche de Celebridades disse...

A imprensa argentina é bem mais sarcástica e fanfarrona que a brasileira, ou seja, é mais engraçada e legal, já que futebol é antes de mais nada tiração de sarro e alegria.

Também gostei dos mexicanos...os caras fantasiados de super-heróis são demais.

Mayer, escutei falar que algumas coisas que acontecem por aqui estão sendo escondidas. Que a delegação da grécia teve seu hotel assaltado, que o Juca Kfouri foi roubado, etc. Ouviu falar? Não sei se é verdade. Não que isso demonstre despreparo ou desorganização. Concordo com vc, a Copa ta bem feita.

Britu, tenho pernil desfiado congelado no meu frezzer aqui. Venha comer.

25 de junho de 2010 às 17:38
Rita disse...

Desmanche, a informação pode proceder, mas que Copa que não tem problemas assim? Eu esperava muito mais problemas desta Copa, então está muito bom.

25 de junho de 2010 às 21:10
Mayer disse...

Desmanche, sim, procede:
Juca: http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/06/17/imprensa36357.shtml

Grécia: http://noticias.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=24533294

Mas como a Rita bem comentou, isso aconteceu em outras pelejas mundiais, mas sempre é pouco comentado.

E olha, eu também iria comer o perniu ai, mas o a picanha argentina com os jornalistas aqui é fora de série...eu guardo um pouco um topeware para vocês depois.

25 de junho de 2010 às 21:22
Desmanche de Celebridades disse...

Concordo com vcs. Até a delegação da Grécia falou que o assalto poderia ser em qualquer lugar do mundo. E é legal ressaltarmos e discutirmos isso, para que não se formem preconceitos.

Abraços Rita e Mayer.

E Rita, não sei se vc é a mesma....mas aquele dia eu realmente apaguei seu comentário tentando apagar o meu ok!? foi só um lampejo de burrice da minha parte.

25 de junho de 2010 às 21:41
Rita disse...

Sou eu mesma haha.
Olha, como disse o James, se futebol nao é pra levar a sério eu vou levar a sério quando me apagam? pára né! Divertido!

25 de junho de 2010 às 21:44
Gustavo disse...

Puxa, saiu essa semana na Veja uma matéria sobre isso mesmo, como foi um boom jogadores irem para a Europa. De fato, isso prejudicou muito os jogadores nacionais que perderam seu espaço para os estrangeiros. É, isso pode ser prejudicial sim, mas uma medida como essa de limitar 3 jogadores estrangeiros por clube pode ser um tanto radical, mas confesso que não sei qual medida seria mais lógica.

25 de junho de 2010 às 22:15
Mayer disse...

Verdade Gustavo, mas a matéria da Veja fala de como é bom para paises fracos em estruturas terem seus jogadores atuando na Europa. Parreria diz lá que o problema da Bafan-Bafana é que seus jogadores não atuam na Europa, e se acontecesse isso, eles teriam melhor visão de jogo. Mas esse é o ponto em questão: jogar na Europa tem sido muito bom para paises que não estão na Europa, como Brasil, Argentina e outros. E os jogadores locais, como ficam? Ficam com a pequena parte do bolo, e isso se motra prejudicial, especialmente pela má fase da Italia e da Espanha, que mesmo com vitória contra o Chile, ta longe de ser aquela seleção campeã da ultima Eurocopa

25 de junho de 2010 às 22:36
Henrique Rika disse...

Uau! dos 8 times americanos, 7 continuam na Copa, e dos 13 europeus, 6 avançam. Isso faz com que o seu argumento Mayer seja relevante. Parabéns

25 de junho de 2010 às 23:11
James disse...

A Alemanha é a prova de que você está certo.
A Federeção alemã de futebol investiu em categorias de base e nas seleções Sub15, 17 e 21.
Resultado: uma seleção jovem, competente. Além do mais, ela restringiu o acesso a estrangeiros na liga principal de Futebol.

A Espanha e a Italia precisam fazer o mesmo.

27 de junho de 2010 às 12:54